Que bom seria se o universo fosse tão simples como certas pessoas o fazem parecer! Simplesmente reduzimos questões complexas a questões díspares, opostas, como se estivéssemos o tempo todo restritos a falsos dilemas.
Talvez este péssimo hábito seja uma herança da lógica cartesiana ou de uma estrutura social em que temos de nos adequar de uma maneira X, ou, então, de maneira contrária a esta X.
Não é de se espantar que uma das frases mais famosas da história da literatura mundial seja a seguinte.
“Ser ou não ser? Eis a questão” – da obra Hamlet de William Shakespeare
Talvez seja a representação mais célebre destes falsos dilemas que nos impomos a todo instante. Precisamos sempre ser OU não ser. Mas porque jamais temos a opção de ser E não ser?
Normalmente rotulamos e somos taxados pelas pessoas como altos ou baixos, bons ou maus, grandes ou pequenos, gordos ou magros, ricos ou pobres, isto ou aquilo.
O fato é que quando reduzimos a questão em rótulos, categorias, opiniões que podem nos levar a caminhos aparentemente opostos, estamos ilusoriamente buscando facilitar situações que nem sempre se resumem à simples escolhas.
Esquecemos que entre em tons contrastantes de preto e branco temos infinitas matizes de tons de cinza. E o pior… Não percebemos que estes tons de cinza são fruto da mistura destas nuances de preto e branco, às vezes muito escuros, outras vezes mais claros.
Entre o “sim absoluto” e o “não absoluto”
Infelizmente estamos sempre tendo de nos posicionar de um lado ou de outro. Mas há entre o “sim absoluto” e o “não absoluto” uma infindável rede de opções e alternativas a serem consideradas antes de uma escolha ou um posicionamento definitivo.
Digo infelizmente porque quando resumimos as situações desta forma, automaticamente estamos afunilando nosso ponto de vista. Além disso, nos privamos de conhecer diversas outras possibilidades situadas entre um extremo e outro, seja em discussões, debates ou em uma cotidiana opção entre uma coisa e outra. Jamais uma verdade, uma escolha estará totalmente correta e a outra totalmente equivocada. Há sempre pontos benéficos em ambos os posicionamentos. Assim, quando cerceamos a nós ou aos outros da chance de perceber o que há em comum entre os opostos, estamos limitando o aprendizado.
E este é o ponto relevante. Normalmente, há mais opções do que as que são opostas entre si. E há um caminho intermediário entre elas: o caminho do meio.
Há simplesmente o dia e a noite? Ou na intersecção existente entre eles há também a aurora e o crepúsculo, quando dia e noite praticamente misturam-se?
Cuidado com os falsos dilemas
Evite cair na armadilha dos falsos dilemas, desde os que são simples, até os que são importantes. Ao reduzirmos questões complexas a alternativas diametralmente opostas, tornamos limitada nossa capacidade de entendimento. Corremos sério risco de nos tornarmos radicais, fanáticos. Além disso, podemos colaborar para uma realidade com base em conflitos e divergências onde o consenso e o equilíbrio ficam cada vez mais distantes.
Autor: José Carlos Carturan Filho